Sensação de celular vibrando e não era nada? A ciência explica por quê


Estudos mostram que duas em cada três pessoas já tiveram a sensação associada à frequência do uso de smartphones e ao estresse; entenda a “síndrome da vibração fantasma” A síndrome da vibração fantasma (SVP) é a sensação ilusória de que o celular está vibrando por causa de uma notificação — mesmo quando não há nenhuma atividade no aparelho. Esse fenômeno é considerado uma alucinação tátil e pode afetar qualquer pessoa que faça uso frequente do smartphone. Em muitos casos, a vibração inexistente é percebida diversas vezes ao dia, especialmente quando o celular está no bolso ou próximo ao corpo. Embora não traga prejuízos físicos, a repetição dessa sensação pode ser desconfortável, contribuindo para um estado de hipervigilância e criando uma expectativa constante de interação com o aparelho.
A longo prazo, esse comportamento pode reforçar a dependência digital e afetar o bem-estar mental, mesmo de forma sutil. Veja o que a ciência já sabe sobre o tema e como a síndrome da vibração fantasma está associada a problemas modernos, como a ansiedade e o uso excessivo de smartphones.
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Sensação de celular vibrando e não era nada? A ciência explica por quê
Divulgação/Freepik
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Tudo sobre a síndrome da vibração fantasma
O TechTudo reuniu cinco coisas que você precisa saber sobre a síndrome da vibração fantasma na lista abaixo. A seguir, confira os tópicos que serão abordados neste texto.
O que é a vibração fantasma?
Quais são as causas?
É algo preocupante? Tem relação com ansiedade ou vício em celular?
O que dizem os especialistas?
Dá para reduzir as vibrações fantasmas?
1. O que é a vibração fantasma?
Uma vibração fantasma ocorre quando temos a percepção de que o telefone está vibrando, ou mesmo tocando, mesmo sem que ele esteja, de fato, recebendo uma ligação ou notificação. É uma experiência que diversas pessoas passam enquanto estão com o celular no bolso e tem a sensação de que o telefone está tocando. Ela é similar à sensação de ouvir o seu nome em uma sala vazia ou de ouvir alguém está te chamando na rua, sem que haja algum conhecido por perto.
De forma geral, a vibração fantasma pode ocorrer diversas vezes ao longo da semana ou mesmo do dia, influenciada por diversos fatores como ansiedade, expectativa ou o simples hábito de checar o aparelho com frequência. Especialistas consultados indicam que não se trata de uma síndrome ou doença, mas uma consequência do uso de aparelhos celulares.
O que é a vibração fantasma em celulares
Thássius Veloso/TechTudo
2. Quais são as causas?
Entre as causas apontadas para a vibração fantasma, está a Teoria de Detecção de Sinais (TDS), princípio utilizado por psicólogos para determinar quando um estímulo está presente ou não, e quando é necessário uma decisão de que ele existe ou não. Na prática, quando o celular está no bolso, algumas sensações, como a roupa se mexendo ou o próprio movimento do corpo, podem ser interpretados como uma vibração no aparelho. Fatores, como a espera por uma ligação ou por eventos importantes, também podem aumentar a percepção de vibrações ou toques.
Segundo a TDS, é mais provável que você perceba o celular tocando quando espera por uma notícia do que quando não há expectativas. A explicação para esse comportamento é a mesma que explica porque um alarme de incêndio toca mesmo quando não há incêndio: é melhor que ele toque quando há um indício de calor ou fumaça, que pode ser o princípio de um incêndio ou não, do que ele só tocar quando houver certeza do incêndio e pessoas se machucarem no processo. No caso da vibração fantasma, assumimos que o risco de atender e ser apenas um engano é menos danoso do que quando uma ligação importante é perdida.
Tal qual pode acontecer com alarmes de incêndio, a sensação de vibração no aparelho pode não ser real
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3. É algo preocupante? Tem relação com ansiedade ou vício em celular?
A vibração fantasma é um fenômeno comum experienciado por pessoas de todo mundo. São erros de percepção, uma vez que recebemos dezenas de sinais ao longo do dia, seja pela visão, audição, olfato, paladar ou tato. Lidamos com uma enxurrada de dados sensoriais diariamente e, como seres sociais, fazemos parte de diversos grupos sociais, seja dentro ou fora do ambiente digital. Dessa forma, o erro no julgamento de um sinal ou sensação recebidos não pode ser classificado como uma síndrome por si só, mas pode estar associado a problemas de ansiedade.
Há também o fator cultural de que os smartphones se tornaram importantes em nossa rotina – e, até certo ponto, viciantes. Além do smartphone, possuímos diversos dispositivos que vibram constantemente, como os smartwatches. Assim, dentro das 24 horas do dia, é comum que se sinta uma notificação que não existe, quase como uma antecipação da mensagem recebida por uma rede social, por exemplo. Ainda que sejam comunicações assíncronas, ou seja, que não dependem da comunicação em tempo real, as pessoas tendem a responder o mais breve possível a uma mensagem recebida.
A atenção ao celular 24 horas por dia pode ser um problema
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4. O que dizem os especialistas?
Um estudo do Indian Journal of Psychological Medicine, de 2018, analisou a relação entre as vibrações fantasmas e os smartphones entre estagiários de medicina e chegou à conclusão de que quase dois terços dos entrevistados já tinham experimentado a sensação de vibração fantasma, resultado próximo ao encontrado nas revisões bibliográficas de outros trabalhos com o mesmo foco. O estudo também relacionou a sensação de vibração fantasma à frequência do uso de smartphones e ao estresse.
Em entrevista para o TechTudo, o psicólogo Jaime Pinheiro Rabello, especialista em análise do comportamento, explicou que a vibração fantasma tende a ocorrer como um estímulo comum pelo uso cotidiano do celular. E deu exemplos de outros objetos que também podem gerar uma sensação tátil.
Pessoas que usam óculos e vão passar uma semana sem eles, porque acabaram de fazer uma cirurgia ou porque estava na manutenção, elas se pegam em vários momentos, tentando tirar o óculos para limpar”, explicou.
Ele também alertou sobre o uso exagerado dos dispositivos móveis em associação a transtornos de comportamento. “É comum crianças que jogam videogame durante muito tempo, na hora de dormir verem a luzinha ou escutarem o barulho do display, né? (…) quando a gente usa muito o telefone e a gente percebe estímulos que não estão presentes, principalmente com uma certa frequência, de três, cinco vezes por semana, em diversos horários, diversos contextos em que você está cansado ou que você não está cansado, de manhã, de tarde, de noite, ajuda, sim, o entendimento é de um uso desequilibrado, né?“. Ele também falou sobre a ansiedade por receber notificações e ligações.
“Eu posso receber 5 notificações daqui a um minuto ou apenas uma no final da tarde. Isso faz com que o nosso senso de atenção seja mantido o tempo inteiro. Imagina que você está num mato, numa selva, e você sabe que existe uma onça ao redor. Qualquer barulho que você escute no mato, pode ser o vento, pode ser um galho que caiu ou pode ser uma onça de fato. É esse mesmo elemento, ele foi responsável por manter a nossa segurança até aqui enquanto espécie, porque ele protege a gente”.
Jaime concluiu o assunto sobre a ansiedade que isso pode trazer: “Promove muita ansiedade, porque eu não sei quando, mas eu sei que vai acontecer. Isso faz com que eu não me desligue.”
5. Dá para reduzir as vibrações fantasmas?
Apesar de, no geral, não ser um incômodo para grande parte das pessoas, a vibração fantasma pode gerar um estado de alerta cansativo e estressante. Assim, seguir alguns passos pode reduzir a percepção de vibrações fantasmas e trazer um pouco de alívio para a ansiedade, como desligar o modo de vibração. Ao ter a certeza de que o modo de vibração está desligado, é pouco provável que as pessoas esperem por uma vibração do aparelho e confiem mais em outros sentidos, como a audição.
É importante evitar o uso do celular na hora de dormir
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Uma desintoxicação digital também pode ser útil, uma vez que a vibração fantasma é causada, em partes, pelo apego à tecnologia, que está sempre em contato conosco, seja no bolso ou nas mãos. Afastar-se do aparelho por períodos bem definidos, como durante a noite, pode trazer benefícios como a melhora do sono e o aumento da produtividade.
Nesse contexto, o psicólogo Jaime Rabello também enfatizou que a redução do foco e do nível de atenção dado ao smartphone pode melhorar a percepção sensorial, com o uso saudável da tecnologia. No entanto, ele também alertou que o processo pode ser doloroso, causar “uma pequena angústia, um pequeno sofrimento”, mas que, com o tempo, o dia a dia deve se tornar mais saudável. E finalizou: “a gente está falando de uso consciente, é preciso ter uma finalidade, mesmo que seja o lazer”.
Com informações de BBC, CBS News, Indian Journal of Psychological Medicine, Men’s Heath, BBC Science Focus e Live Science
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